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Pedro Nogueira Photography

Um blog para mostrar as minhas fotos e para escrever sobre tudo o que me vier à cabeça …assim haja tempo.

Canalhas e estultos

01
Jul19

Queiram fazer o favor de ler este artigo de Pacheco Pereira.

A canalha que se lembrou de criar a aberração ortográfica que dá pelo nome de AO90 continuará sempre a assobiar para o lado. O objectivo foi cumprido. O de encher os próprios bolsos.

Os estultos, coitados, fruto dessa sua condição, apoiaram desde a primeira hora, pois cuidavam as pobres almas que graças a tal aberração, iriam poder dissimular melhor os parcos conhecimentos que têm da sua língua-mãe.

Miúdos e graúdos, convenceram-se a si próprios, como corja de néscios que são, que erros ortográficos seriam coisa do passado e que escrever bem estaria ao alcance de todos, sem nunca terem estudado o suficiente para que tal acontecesse.

Como se não dar erros ortográficos fosse suficiente para saber escrever.

"…uma geração que faz cursos universitários sem ler um livro…", refere Pacheco Pereira e ao que eu acrescento "Se não lermos, não saberemos escrever e se não soubermos escrever, não saberemos pensar."

Nunca é por demais atacar esta aberração que dá pelo nome de AO90, com tal, só posso subscrever sem reservas, este texto de Pacheco Pereira, até porque muito do que nele consta, já eu repeti ad nauseam.

No entanto, o AO90 é uma aberração facilmente refutável e que pode ser esvaziado de qualquer mais-valia que porventura pudesse ter, bastando para isso uma simples frase:

Um intelectual que fala em uniformização da língua não é um intelectual. É uma besta.

"O leite e a lata" por Nuno Pacheco

02
Set16

Subscrevo na integra este artigo de opinião da autoria de Nuno Pacheco, escrito para o jornal Público, a respeito do Aborto Ortográfico.

Diz o povo que quanto mais se mexe na merda pior ela cheira. Na minha opinião, passa-se exactamente o mesmo com o aberrante AO90.

 

Para além do link para o artigo, deixo também aqui a transcrição:

 

Puro deleite, diz o anúncio. E, em certo sentido, é. Ora vejam: “Venha descobrir os laticínios dos Açores”, anuncia o governo regional dos ditos, avisando que o seu “imenso manto verde” dá origem “a um leite excecional”. Nenhum problema no conteúdo. Já a grafia, que como se vê segue o chamado novo acordo ortográfico de 1990 (AO90), merece alguma reflexão.

Se lacticínio passou a escrever-se laticínio, como se escrevem então as restantes palavras da mesma família? Leite, como se sabe, vem do latim lacte-, derivando de leite palavras como leiteiro ou leitaria. Mas e as outras? As que, relacionadas com o leite, se escreviam com ct, como lácteo, lactente, láctico, lactífero, lactiforme, lactífugo, lactígeno ou lactómetro, para só citar algumas? Continuam a escrever-se exactamente assim, mesmo com o acordo. Pelo menos é o que diz o dicionário Houaiss Atual (ed. Círculo de Leitores, 2011), na página 1414 do II volume. Mas onde estão lacticínio e lacticinoso? Quinze páginas adiante, na 1429. Mas escritas como laticínio e laticinoso, sem o c; explicando-se que laticinoso (sem c) “é o mesmo que lactescente” (com c) e acrescentando-se esta inacreditável nota: “ETIM laticínio+oso.” Ou seja, o étimo deixa de ser o latino (lacticiniu-) para ser a própria palavra acordizada…

Mas há mais. Consultemos dois prontuários ortográficos já com o AO90. No da Porto Editora lá vêm lactação, lactante, lactose, etc, tudo com c, dando-se a láctico dupla grafia (também lático), coisa que o Houaiss não sugere, e mostrando uma só grafia para laticínio (sem o c). Já o da Casa das Letras (e falamos nas edições mais recentes de ambos) alinha, por esta ordem, lactante, lactário, lactente, lácteo, lactescência, lacticínio, láctico, lactómetro e lactose, não apresentando para qualquer destas palavras variantes ou alternativas sem o c.

A esta deriva sem nexo chamará o eterno Malaca “minudências”. Pois. Comecem a mexer-lhe e verão o “acordo” desfazer-se como um castelo de cartas. Puro deleite? É mais uma imensa lata.