Inteligência Artificial
Nota prévia:
Não me imagino a escrever este texto numa Olivetti Lettera 32, com duas vias e papel químico para enviar uma cópia pelo correio para uns senhores mandarem para a tipografia e imprimir daqui a um mês no Jornal SAPO e onde as as pessoas iriam mascarrar as mãos todas para ler estas patetices.
A respeito do ChatGPT e outros quejandos, nos dias que correm, o grande papão é a Inteligência Artificial.
Quase todo o ser humano tem esta ‘mania’ de desconfiar de tudo o que é novo e diferente, mas faz-me confusão porque gosto imenso de ver surgir coisas novas, gosto da evolução e dia em que não aprenda alguma coisa nova, para mim não é dia. É sinal de estar vivo. O mundo está em permanente mudança, sempre assim foi e sempre assim será. Primeiro estranha-se e depois entranha-se. Quanto ao progresso, metam nas vossas cabeças, esse ninguém o pára.
Ainda de me recordo de gente que se reformou mais cedo quando começaram a entrar os computadores nas empresas e eles só sabiam escrever à máquina e mal. Lembro-me dos fotógrafos ‘velhos do Restelo’ que odiavam a fotografia digital e o Photoshop. O que era bom era trabalhar com a cabeça enfiada em tinas cheias de produtos químicos, enfiados na câmara-escura. Qual Auto-CAD ou Illustrator, qual quê. Bom mesmo é o estirador, as canetas Rotring e o pantógrafo.
Passei por isso tudo, sobrevivi e prefiro, de longe, as ferramentas modernas.
Imagino que à data do surgimento do comboio eléctrico também houvesse quem fosse contra.
Os desgraçados que metiam carvão nas fornalhas das locomotivas a vapor iam fazer o quê?
…e agora ficava aqui o resto do dia a dar exemplos semelhantes, mas não tenho tempo e vocês também não.
A única coisa que me deixa triste, para não dizer revoltado é o facto de facilmente se poder constatar que com tanta informação ao dispor e de tão fácil acesso, as pessoas são cada vez mais ignorantes.
Sou confrontado diariamente com dezenas de exemplos. Deixo aqui dois com que me farto de esbarrar. Daqueles mesmo muito básicos e que me faz ter vontade de cortar os pulsos com uma colher de plástico. Temos todo o conhecimento do mundo nas mãos, mas há sempre um energúmeno que aparece nas redes sociais a perguntar quando é que muda a hora ou um outro que não perde 15 segundos a fazer um backup do telemóvel e quando este avaria, aparece em pânico a pedir que lhe mandem os números de telemóvel porque perdeu todo e não consegue contactar ninguém. Já as tricas a respeito dos pés-descalços que aparecem na televisão armados em vedetas, isso, ui, sabem tudo.
Bolas! Parece que quanto maior e mais rápido é o progresso, mais burras e calonas as pessoas ficam.
E já agora, sem têm assim tanto medo do progresso, a próxima vez que tiverem de arrancar um dente, façam-no sem essa modernice da anestesia.
Por agora é tudo. Vou ali à mercearia antes que escureça, ver se pergunto as horas a alguém para acertar e dar corda ao relógio.
Até ao meu regresso.