Às vezes o amor
Nunca nutri qualquer tipo de respeito por dois tipos de pessoas. As mentirosas e as cobardes.
Quando estas duas particularidades estão presentes na mesma pessoa, temos aquilo a que chamo, para ser simpático, gente muito fraquinha.
Começando pelas pessoas mentirosas:
Tenho a dizer que quem mente uma vez, mente as vezes que forem necessárias. Não acredito em mentirinhas piedosas. Ou se fala verdade ou se mente com todos os dentes. Não há meio-termo. Ou somos sérios ou aldrabões.
Ninguém mente sozinho. Nenhuma patranha é inócua. Quando alguém mente, está deliberadamente a prejudicar terceiros, a urdir algo com o intuito de iludir e com isso obter proveito próprio. A agir com segundas intenções e com o objectivo de sair como único beneficiado seja de que situação for e em caso extremo, a brincar com os sentimentos e a vida de alguém.
Não são poucas as vezes que alguém mente por falta de coragem, o que me leva ao segundo tipo de pessoas pela qual também não nutro qualquer respeito.
As pessoas cobardes:
Existem dois tipos de cobardes. Aqueles que nem a sua cor favorita são capazes de referir com medo de arranjar inimizades. Seres repugnantes que nunca conseguem formar uma personalidade, tal é o medo de não se encaixar na sociedade ou perderem-se do rebanho do qual têm pavor de se estremalhar. Não são sequer dignos de serem considerados gente. São meros cata-ventos. Reles lesmas. Com esses, nem perco tempo.
Depois, existe outro tipo de cobarde. Aquele que apesar de ter algum valor como pessoa mas que por não se encontrar numa situação ideal ou tendo mesmo já ultrapassado o limiar do desconforto, quer físico, quer psicológico - a vida tem destas coisas - é no entanto incapaz de sair da sua zona de (des)conforto. De transpor uma espécie de cortina de fumo, avançar para o desconhecido em busca da sua própria felicidade. Fazer por merecer a dádiva da vida ou, como escreveu Fernando Pessoa "Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver." ou "Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos."
Quanto mais não vale tomar uma má decisão do que não tomar decisão nenhuma?
Este é o tipo de cobarde que é um procrastinador nato. Em lugar de arranjar uma forma de fazer, inventa sempre uma desculpa para manter tudo na mesma, muitas vezes ou quase sempre escudando-se nos outros para esconder as suas próprias fraquezas.
Este é o tipo de cobarde que para além de encontrar desculpa para tudo ainda põe sempre a culpa nos outros sem no entanto mexer um dedo para alterar o rumo dos acontecimentos.
Este é o tipo de cobarde que tenta puxar os que estão à sua volta para a pasmaceira em que vive em lugar de aceitar ajuda de quem tem a coragem de lutar para vencer a inércia, entrar no desconhecido e procurar a felicidade, custe o que custar.
Para mim, não estando bem seja em que situação for, mais do que uma simples necessidade, é fundamental para a minha sanidade mental, sair da minha zona de conforto, partir rumo ao desconhecido, sentir as borboletas no estômago, sentir que estou vivo, arriscar, dar o tal passo que pode fazer toda a diferença na descoberta de uma nova felicidade e de uma nova vida.
Algo que me atormentaria até à morte, seria não descobrir o que está do outro lado do espelho cada vez que sinto que algo tem necessariamente de mudar.
Não consigo limitar-me a existir, escudado em calculismos bacocos e cobardes.
Não consigo compreender quem tenha medo de viver em toda a sua plenitude algo tão efémero como a sua própria vida.
Talvez não seja cobardia. Talvez seja egoísmo, o "eu" em detrimento do "nós". Talvez seja cinismo, falta de franqueza. Talvez seja só saber viver de pé atrás. Talvez seja outra coisa ainda. Quando há demasiado servilismo para quem já nos fez mal, talvez também possa ser um desejo recalcado de regressar ao passado.
Às vezes o amor prega-nos partidas mas que graça teria a vida sem as tais borboletas no estômago?
Sem pestanejar, troquei 30 anos de vida por, até agora, 8 meses de um novo amor. Nunca pensei apenas em mim, só no "nós", talvez até mais no "em ti" e então, qual o problema?
Souberam bem, foi mais uma experiência fantástica no fantástico que a vida tem para dar quando é vivida em toda a sua plenitude. Algo que um cobarde nunca poderá vivenciar.
De mentiroso e cobarde nunca ninguém me há-de acusar.
Nunca me arrependi de nada na vida, porque diabo me iria arrepender agora?
Aquilo que se vive, fica connosco para sempre. As recordações, essas, ninguém me as tira.
Acontece que está na hora de acabar com meias palavras e jogos de cintura.
Agora, apenas os actos me poderão convencer.
Cá ficarei à espera de novidades ou apenas da notícia que a cobardia imperou e que o meu amor fugiu.
Amor calculista não é amor.
…é outra coisa qualquer e com a qual eu não sei lidar.